Federação da Agricultura de SC manifesta preocupação com presença de javalis na região de Ponte Serrada e Passos Maia

Escrito em 17/09/2025
Guilherme Zimermann

A superpopulação de javalis e as dificuldades de controle dos animais representa ameaças reais à agricultura e pecuária dos municípios de Ponte Serrada e Passos Maia, no Oeste de Santa Catarina. A preocupação foi manifestada pelo presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Santa Catarina (FAESC), José Zeferino Pedroso, em artigo publicado na última semana.

De acordo com o representante do setor agrícola, os animais invasores já estão presentes em 236 municípios catarinenses. A maior deles habita o entorno do município de Lages, na serra catarinense, e o Parque Nacional das Araucárias, área de preservação com 12,8 mil hectares, que ocupa parte do território dos municípios de Ponte Serrada e Passos Maia.

Quando o alimento escasseia nesse habitat, os animais migram para áreas agrícolas, atacando lavouras de milho, feijão, soja, trigo, pastagens, hortas e até criatórios de aves e suínos. Em uma única noite, bandos podem destruir hectares inteiros de produção, alerta Pedroso.

Segundo a FAESC, entre 2019 e 2024, foram abatidos mais de 120 mil javalis em Santa Catarina, mas a população atual ainda é estimada em 200 mil animais. Os javalis vivem em varas que chegam a 50 indivíduos e possuem alto potencial reprodutivo: uma fêmea pode gerar duas ninhadas por ano, com média de oito filhotes em cada uma.

O macho adulto pode pesar até 200 quilos, o que, aliado à agressividade da espécie, torna o controle arriscado. “Com frequência os javalis matam cães de caça e investem com ferocidade contra caçadores”, afirma o presidente da Federação.

Além da destruição das lavouras, os javalis representam risco sanitário, pois podem transmitir doenças como peste suína africana, peste suína clássica e febre aftosa. Santa Catarina é o maior produtor e exportador de suínos do Brasil e qualquer contaminação pode representar impactos expressivos para a economia.

Desde 2023, uma Lei estadual autoriza o controle populacional do javali-europeu (sus scrofa). No entanto, os produtores enfrentam dificuldades práticas: falta de equipes especializadas, burocracia para emissão de licenças e risco elevado nas operações de caça. Somente caçadores credenciados podem realizar o abate, mas, segundo a FAESC, o número de profissionais é insuficiente para a dimensão do problema.

A questão também chegou ao Congresso Nacional. No final de agosto, uma audiência pública na Câmara dos Deputados discutiu as barreiras para o controle da espécie no Brasil. Produtores e especialistas relataram demora na emissão de guias de tráfego, excesso de burocracia e falta de apoio técnico.

Para a FAESC, a praga dos javalis já extrapolou os limites do agronegócio. “Trata-se de uma questão que atinge toda a sociedade brasileira e deve ser prioridade de todas as esferas da Administração Pública, sob pena de comprometer a economia, a segurança sanitária e a integridade das famílias rurais”, afirma o presidente da entidade.

.