Negociação segue modelo proposto em 2023, com contato direto entre Ednaldo Rodrigues e o italiano. Real Madrid ainda não oficializou saída, e Davide Ancelotti adia planos individuais para integrar comissão até a Copa
Carlo e Davide Ancelotti conversam em jogo do Real no Bernabéu — Foto: Jonathan Guimarães / One9 Content
A Confederação Brasileira de Futebol encara como uma questão de tempo a concretização do acerto com Carlo Ancelotti para assumir o comando da Seleção Brasileira a partir da próxima Data Fifa, em junho. Embora o processo seja tratado com cautela devido à renovação inesperada do técnico com o Real Madrid em 2023, os diálogos avançam com ciência do clube espanhol e até mesmo a composição da comissão técnica já começou a ser debatida.
A definição sobre a saída de Ancelotti, cujo contrato com o Real vai até 2026, deve ser influenciada pelas etapas finais da temporada europeia. Por isso, o assunto é conduzido com total discrição, entre negativas públicas e atenção redobrada aos intermediários envolvidos. Fontes próximas ao treinador relatam que ele mantém conversas diretas com o presidente Ednaldo Rodrigues. Os termos da proposta atual são semelhantes aos de 2023, quando o italiano assinou um compromisso informal com a CBF — acordo que não teve validade jurídica e foi interrompido após a saída temporária de Ednaldo da presidência. Ainda assim, o bom relacionamento estabelecido e o interesse mútuo facilitaram a retomada das tratativas este ano, mesmo antes da decisão de desligamento de Dorival Júnior, tomada após a última Data Fifa.
O avanço no diálogo foi tanto que já se discute o dia a dia da futura comissão técnica. A previsão é de que Ancelotti conte com dois auxiliares: seu filho Davide Ancelotti e Francesco Mauri. Inicialmente, cogitou-se que Davide desse início à sua carreira solo como técnico, unindo-se ao pai apenas na Copa do Mundo. No entanto, essa ideia foi adiada.
Também está sendo analisada a reformulação na preparação física, com preferência para a inclusão de um profissional brasileiro. Ancelotti expressou ainda o desejo de ter ao seu lado um ex-jogador da Seleção. Alguns nomes foram sugeridos, mas sem definição até o momento. Juan, ex-zagueiro com passagens pelas Copas de 2006 e 2010, atualmente exerce a função de gerente técnico da Seleção.
A confiança da CBF anda lado a lado com a expectativa em torno da decisão do Real Madrid. O clube sabe que há tratativas para que Ancelotti assuma o time brasileiro, mas pretende conduzir a transição com cautela, respeitando a história vitoriosa do técnico na equipe. Internamente, existe a intenção de fazer a troca antes do Mundial de Clubes, e a diretoria já avalia nomes para a sucessão.
O cenário mais plausível hoje é que Ancelotti encerre sua passagem pelo Real ao fim da La Liga, no jogo contra a Real Sociedad, dia 25 de maio, no Santiago Bernabéu. Nesse caso, a CBF precisará encaminhar a lista provisória para a Fifa no dia 18 de maio ainda sem o nome do novo treinador oficializado. A chegada do italiano ao Brasil ocorreria poucos dias antes da apresentação da equipe, marcada para 2 de junho. A convocação final de 23 nomes será feita logo depois, com os duelos contra Equador (5/6) e Paraguai (10/6) já no horizonte.
Os compromissos do Real Madrid contra o Barcelona — um pela final da Copa do Rei neste sábado e outro por La Liga no dia 11 — são vistos como possíveis pontos de virada para a antecipação da despedida. A equipe está atualmente quatro pontos à frente do rival na tabela, com cinco rodadas restantes no Campeonato Espanhol. Não está descartada uma "saída celebrada", semelhante à de Jurgen Klopp no Liverpool.
Enquanto isso, a CBF busca evitar qualquer ruído com o Real Madrid, tentando minimizar as chances de frustração como ocorreu no passado. A exigência da entidade é clara: quer Ancelotti já disponível em junho. Caso isso não aconteça, nomes como Jorge Jesus e Abel Ferreira podem voltar à pauta.
Até lá, o silêncio segue como estratégia. Oficialmente, Ancelotti nega ter sido procurado pela CBF, e a entidade mantém o discurso de que ainda avalia alternativas para o comando técnico. Em público, Ednaldo Rodrigues afirmou durante o sorteio da Copa do Brasil que trata do tema apenas com o diretor Rodrigo Caetano. No entanto, segundo apurado pelo ge, as conversas com Ancelotti foram retomadas ainda antes da última Data Fifa, sem envolvimento do dirigente.
A CBF vem atuando com interlocutores fora do circuito habitual do futebol para preservar o sigilo e evitar desgastes com o clube espanhol. O trauma da frustração anterior ainda é lembrado, e o zelo é total para não repetir a história.
Fonte: Jogo de Hoje 360