Relatório revela reembolsos por compras de cerveja, medicamentos e serviços sem vínculo com atividades do time; R$ 80 mil foram pagos em espécie. Ex-presidente nega irregularidades.
Duilio Monteiro Alves presidiu o Corinthians entre 2021 e 2023 — Foto: Marcos Ribolli
Durante a presidência de Duilio Monteiro Alves, entre 2021 e 2023, o Corinthians arcou com uma série de despesas de uso particular, segundo registros fiscais analisados pela reportagem do ge. O ex-mandatário refuta qualquer ilegalidade.
O dossiê inclui notas fiscais e cupons que somam R$ 86.524,62 em compras que vão desde alimentos e bebidas alcoólicas até medicamentos para disfunção erétil. Ao todo, 176 itens foram declarados em um intervalo de 36 dias, entre setembro e outubro de 2023. As informações constam em relatórios apresentados ao clube e homologados com ressalvas por seus conselhos internos.
O levantamento é assinado por Denilson Grillo, então motorista de Duilio. Ele afirma desconhecer o relatório e a assinatura constante no documento. No entanto, o mesmo sinal gráfico aparece em documentos registrados por ele na Junta Comercial de São Paulo.
Embora a maioria dos comprovantes não traga identificação clara de quem realizou as compras, vários estão em nome ou CPF de Duilio ou do próprio Denilson, e alguns mostram os respectivos endereços residenciais.
Adiantamento em dinheiro vivo
O relatório aponta que a presidência recebeu R$ 80 mil em espécie — distribuídos em três parcelas —, com previsão de prestação de contas. O saldo das compras superou esse valor em R$ 6.524,62, indicando solicitação de reembolso.
A maior fatia das despesas foi com alimentação: R$ 57,8 mil em mercados, buffets e restaurantes. Um dos principais fornecedores foi o “Oliveira Minimercado”, que emitiu sete notas fiscais totalizando R$ 32.580, todas descritas como serviços de buffet. O endereço informado, no extremo sul da capital paulista, revelou-se uma residência, segundo apuração feita no local.
Curiosamente, dias antes da emissão da primeira nota, a empresa havia alterado seu nome e atividade: de “Oliveira Obras de Alvenaria” passou a atuar como mercado e buffet.
Compras inusitadas
O estabelecimento com maior volume de transações foi o Oba Hortifruti, onde foram registradas 38 compras de carnes nobres, cervejas, sorvetes e hortifrúti. Também houve gastos com redes de fast food, pizzas, doces, isqueiros e até artigos de limpeza doméstica.
Diversos recibos chamam atenção pela natureza estritamente pessoal: barbeadores profissionais de R$ 3 mil, serviços de salão de beleza, lavanderia, ração animal, bijuterias e até um brinquedo de pelúcia.
Farmácias também aparecem com destaque — incluindo compras de medicamentos como Cialis e Tadalafila, voltados para disfunção erétil. Um desses produtos foi adquirido em Fortaleza no mesmo dia em que o clube disputava uma partida pela Sul-Americana.
Serviços sem nota fiscal
O documento inclui dois pagamentos informais, sem nota ou detalhamento do serviço: um de R$ 3.350 à Sra. Maria Aparecida de Souza e outro de R$ 2 mil para Sidney Balbino dos Santos — ex-assessor parlamentar de Andrés Sanchez. Este último também aparece como comprador de roupas em uma loja de moda masculina, no mesmo período.
Transporte e manutenção
Outros R$ 13,8 mil foram despendidos com transporte, incluindo combustíveis, táxi, estacionamento e serviços mecânicos. Um único reparo automotivo custou R$ 9.470. Um posto de combustível emitiu três notas no mesmo dia, com apenas minutos de intervalo entre elas. O proprietário do estabelecimento nega ter qualquer vínculo com o clube.
Outros casos e posicionamentos
Além de Duilio, o ex-presidente Andrés Sanchez também será alvo de apuração por uso do cartão corporativo do clube para gastos pessoais. Em 2020, ele teria utilizado o cartão em viagens para destinos turísticos como Tibau do Sul (RN) e Fernando de Noronha.
Procurado, Duilio Monteiro Alves emitiu nota negando as irregularidades:
“Não tenho qualquer receio sobre despesas da Presidência à época em que tive a honra de presidir o Corinthians [...] Só vou me manifestar quando o clube franquear acesso aos documentos, pois aí terei dados oficiais para rebater as mentiras.”
Já Wesley Melo, ex-diretor financeiro, declarou desconhecer o relatório. O então presidente do Conselho Fiscal, João de Oliveira, também afirmou não reconhecer os documentos.
Até o momento, o Corinthians não emitiu nota pública, mas confirmou o registro de um Boletim de Ocorrência sobre o desaparecimento de notas fiscais e documentos.
Fonte: Jogo de Hoje